Mais que história… um exemplo de vida que inspira gerações.
Padre André - Biografia
O menino André Frans Bérénos nasceu em 07 de abril de 1919 em Paramaribo, Suriname (antiga Guiana Holandesa), filho de Sebastião Oostburg e Gertrudes Catarina Bérénos, precedente de família fervorosamente cristã católica. Sua infância foi igual a de qualquer menino da sua época: correndo e se divertindo pelas ruas e largos de sua terra natal. Sua brincadeira favorita era o futebol e se divertia chutando bola, driblando, dando passos e marcando gols. Aos cinco anos de idade, passou a frequentar a escola e a catequese e, aos sete anos, fez a Primeira Comunhão.
Desde os 12 anos de idade, já ecoava a vocação de ser padre, e isso certamente influenciou seus futuros passos rumo ao sacerdócio.
“Gostava muito de Cristo, queria ser missionário, queria ajudar os outros.”

Monsenhor André pensava sobre isso desde criança. Essa foi sua primeira manifestação de abnegação, uma de suas grandes qualidades, que já o acompanhava desde criancinha. A história de São Francisco de Assis, permeou sua trajetória vocacional, aliado a vida e a santidade dos Religiosos Redentoristas e Franciscanos com quem se relacionava, convicto da entrega aos desígnios da Igreja Católica Apostólica Romana na busca de conduzir o rebanho dos filhos de Deus, guiando seus passos na terra, mostrando os caminhos da fé, da solidariedade e da benevolência divina.
Aos 18 anos de idade, deixou Paramaribo, sua terra natal, e foi estudar na Ilha de Curaçao, no Caribe, também colonizada pelos holandeses. Cursou o básico, equivalente ao atual 2º grau, conciliando os estudos e o trabalho. Ingressou numa empresa refinaria de petróleo e, pelo seu bom desempenho, foi promovido, assumindo a administração daquele setor. Um detalhe, porém, marcaria sua trajetória: sua idade escolar não obedecia a normalidade, ou seja, tinha idade demais para os estudos e isso influenciou sua condição de futuro aluno das hostes divina e o encaminhou rumo ao Brasil.

A Vocação que Superou a Guerra
A segunda Guerra Mundial impediu André Bérénos de ir para o seminário na Holanda, e em Paramaribo, não existia seminário menor. A ida para Holanda, porém era cercada de rigor, pois o Bispado de Paramaribo só mandava uma pessoa para o seminário holandês se tivesse certeza de que essa pessoa “seria um santo ou um grande sábio”, segundo palavras do próprio Monsenhor André. Então, aos 29 anos de idade, recebeu a visita do Bispo de Paramaribo, Dom Estevão Kuipers C.S.J.R. O Bispo desejava saber do próprio André se este ainda conservava a vocação sacerdotal, se queria realmente ser padre. Com a resposta afirmativa começaram a se abrir caminhos que o levaria ao sacerdócio e, consequentemente, a exercê-lo em Correntina. André ficou muito contente porque encaminhava seu desejo vocacional, no entanto, havia um problema: somente na França, na Venezuela e no Brasil existiam seminários menores, onde adulto podia estudar e encaminhar seu dom sacerdotal. Por dificuldades diversas, tornaram-se inviáveis os caminhos para a França e para a Venezuela.
Foi justamente esse fator que acabou beneficiando Correntina. Dom Kuipers disse a André que tinha um amigo no Brasil, o Bispo Dom João Batista Muniz, que cuidava da Diocese de Barra do Rio Grande, no Estado da Bahia, na qual se inseria a Paróquia de Correntina. Foi então que, aos 30 anos de idade, em agosto de 1949, André chegou ao Brasil, especificamente ao Rio de Janeiro e, em seguida, foi para o seminário, onde buscou aperfeiçoar o latim e o português. Neste mesmo ano, iniciou os estudos de filosofia no seminário Maior em Diamantina, no Estado de Minas Gerais.
Fiz dois anos em Diamantina e quatro anos de Teologia em Mariana, com os Padres Lazaristas.”
No período de férias do seminário, vinha para Diocese de Barra fazer experiência Pastoral, onde iniciou o trabalho comunitário, assistencial e sacerdotal, que o projetaria no futuro. Conseguiu mudar um bairro de violência e prostituição, que enfrentavam constante preconceito e discriminação, em um lugar de fiéis católicos, onde formou uma diretoria e se construiu a Igreja Nossa Senhora do Rosário.
Chegada de Padre André em Correntina e Celebração dos Festejos do Divino e do Rosário.
A partir de então, estava concretizado o sonho de se tornar padre, que se fez realidade no dia 08 de dezembro de 1955, na sede da Diocese de Barra do Rio Grande, onde chegou a trabalhar por um curto período, com Dom João Muniz. Ao chegar em Correntina, encontrou uma população contrariada com a saída dos três Freis Carmelitas (Frei Henrique, Frei Ambrósio e Frei Cristóvão), que eram encarregados por Correntina e Santa Maria da Vitória. Para além disso, Padre André sendo um homem negro, causou estranheza e frieza por parte da população local. Aos poucos, o padre recém-chegado, foi conquistando a simpatia do povo, que necessitava de empreender trabalho, pois vivia em situação de cruel pobreza. Ele passou a entender que a sua missão sacerdotal não se resumia as celebrações de missas nem a ficar isolado em Correntina. Mais tarde, na década de 60, chegou a acumular simultaneamente a coordenação das Paróquias de Correntina, Santa Maria da Vitória, Coribe, Cocos, Feira da Mata e Carinhanha.

Durante sua carreira sacerdotal, estudou, dentre outros cursos, Filosofia, Teologia, Adaptação em Filosofia, Bacharelado em Direito e um pouco de Parapsicologia, tenso se integrado ao Instituto de Parapsicólogos do Brasil. Comunicador nato dos idiomas Holandês, Inglês, Francês, Espanhol, Taki taki, Papiamento, Latim, Flamengo e Alemão, tornou-se um dos maiores brasileiros, estadistas, baiano e correntinense que esta terra já possuiu.
Dedicou incansavelmente a assistência religiosa, por meio de Celebrações de Missas, Confissões, Batismos e Casamentos. Seu principal meio de transporte era um cavalo e uma mula.

Fé, Liderança e Transformação Social em Correntina
A realidade que encontrou no município, todavia, foi a mais cruel possível: muita pobreza e atraso extremo. Através da sua determinação e amor a vocação, foi encontrando maneiras de enfrentar estes desafios. Após os primeiros contatos, começou a entabular maneiras de atacar as maiores dificuldades, que residiam na educação e na saúde. Paralelamente, organizou os fiéis para os trabalhos, também em mutirão, de reforma e ampliação da Igreja Matriz, que mais parecia uma capela interiorana. A igreja ganhou duas torres, piso novo, telhado, forro e outros benefícios.
Pela ocasião do desmembramento da Diocese de Barra no ano de 1962, Padre André foi o braço forte do novo Bispo, vindo de Mariana-MG, Dom José Nicomedes Grossi, tornando-se um referencial em toda a diocese de Bom Jesus da lapa para os padres, religiosos, leigos, agentes de Pastoral e lideranças comunitárias, no incentivo e credibilidade no trabalho assumido por eles.
Acompanhou de perto a criação da Pastoral da Saúde e da Pastoral da Terra, orientando os lavradores na reivindicação dos direitos. Devido a sua jovialidade, sempre esteve perto da Pastoral da Juventude do Meio Popular, tornando-se o conselheiro e defensor da causa da juventude nas mais diversas dimensões.
Foi Vigário Geral, ajudando na administração da diocese desde o período de Dom Grossi no ano de 1963 até o episcopado de Dom Francisco Batistela que chegou na diocese em julho dos anos 90. Entregou este ofício à diocese em abril de 2005 e, em julho deste mesmo ano, entregou a Paróquia de Nossa Senhora da Glória, ao Padre Roberto, que havia sido ordenado em abril de 2001. Na década de 80, recebeu a medalha de honra ao mérito das mãos do cônsul Holandês oferecido pela Rainha Holandesa em reconhecimento do trabalho de um holandês em outro Pais. No dia 07 de abril de 1990, o Papa João Paulo II concedeu o título de Monsenhor, recebendo o mais caro reconhecimento da maior autoridade da Igreja católica. Na ocasião dos 40 de sacerdócio em 1995, a Câmara Municipal de Vereadores de Correntina o agraciou com o seu nome a praça da antiga Matriz, através da Lei Municipal nº. 448/95, de 23 de outubro de 1995, passando a se chamar, Praça Monsenhor André.
Meio Século de Obras, Fé e Reconhecimento
No Jubileu de 50 anos de sacerdócio, em 25 de novembro 2005, a Câmara Municipal de Vereadores de Jaborandi, conferiu a Padre André, o Título de Cidadão Jaborandiense, conforme a Resolução nº. 09/2005. Na mesma festa Jubilar, no dia 02 de dezembro de 2005, em ato solene, Padre André recebeu do Poder Público, o nome da nova ponte sobre o Rio Correntina. No decorrer do ano de 2005, recebeu várias homenagens das comunidades das Paróquia de Correntina, Santa Maria da Vitoria, Canápolis, São Félix do Coribe, Bom Jesus da Lapa e Jaborandi. A sua presença por mais de meio século nesta região é marcada por muito amor, alegria, acolhimento, respeito, ensinamentos e testemunhos, de modo que seu nome sempre será lembrado através das suas importantes obras: Centro Educacional de Correntina, Escola Família Agrícola, Centro de Treinamento de Líderes (CTL), Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Casa de Saúde e Maternidade Padre André, Abrigos dos Idosos, Rádio Caricia FM, casa dos pobres e casas populares. Entre tantas Igrejas, ressalta-se a nova Igreja Matriz, penúltima obra deixada para o povo, em 1998, além dos salões comunitários, casas, apartamento patrimônios para autossustentação da própria Igreja, sem enumerar as obras e projetos instalados fora do município de Correntina.

Em 1º de setembro de 2006, Padre André veio a óbito, em Goiânia-GO. No mesmo ano, em 10 de outubro, foi instituído feriado municipal, conforme a Lei Municipal nº. 740/2006. No ano seguinte, através da Lei Municipal nº. 774/2007, o nome da Rua da Extrema, no bairro em que ele residiu e dedicou sua vida, foi alterado para Avenida Monsenhor André. Após sua morte, Correntina inaugura uma nova fase sem a presença física de Padre André. Todavia, seus sinais vão se manifestando, de modo que a população e autoridades locais, vem reconhecendo a importância desse homem para a cidade de Correntina-BA. O 1º de Setembro, data de sua passagem celestial, é marcado com atos cívicos e religiosos, sendo um dia de celebração e reafirmação da viva memória, de louvor, homenagens, e continuidade do projeto de Deus testemunhado por ele e que continua inspirando outras gerações.

Padre André.
Por toda sua história de vida e dedicação aos mais necessitados, o povo foi lhe concedendo vários títulos ao longo dos anos: Sacerdote do Povo, Mestre e Construtor da Paz, Baluarte da Educação, Patrimônio Cultural e Religioso de Correntina, Profeta do Sertão, Pai dos Pobres. Em 1º de setembro de 2006, data de sua partida, o povo o consagrou como Eterno Pároco de Correntina.